terça-feira, 4 de setembro de 2012

A EMPRESA GRUNENTHAL PEDE DESCULPAS

Empresa alemã pede desculpas 50 anos depois
* Fabricante diz que não tinha como saber sobre o efeito da droga
* 10 mil crianças nasceram com malformações causadas pela droga
Por Annika Breidthardt
BERLIM, 1 Set (Reuters) - As vítimas da Talidomida, medicamento que causou defeitos congênitos em milhares de bebês no mundo todo, disseram no sábado que o pedido de desculpas do fabricante alemão era insuficiente e tardio.
O medicamento Talidomida, desenvolvido pela empresa alemã Gruenenthal, foi vendido para mulheres grávidas do mundo todo, no fim dos anos 50 e começo dos anos 60, como um tratamento para o enjoo matinal. Cerca de 10.000 crianças nasceram com defeitos causados pela droga, a maioria com malformações nos membros ou sem braços ou pernas.
"Tentei lembrá-los do seu comportamento criminoso em várias ocasiões, não acho que essa empresa algum dia fará a coisa certa", disse Geoff Adams-Spink, vítima britânica da Talidomida.
"Este é um primeiro passo importante. O próximo é compensar todos os que foram afetados pela sua então chamada droga ''totalmente inofensiva''," disse Adams-Spink, que lidera o European Dysmelia Reference Information Centre, um grupo de apoio para pessoas com malformações atribuídas à Talidomida e outras causas.
A Gruenenthal, que diz ter pago às vítimas cerca de 500 milhões de euros até 2010 , inaugurou uma estátua comemorativa na sexta-feira. Na cerimônia, o presidente da empresa, Harald Stock, disse que a empresa sentia muito pelo que aconteceu com as vítimas.
"Em nome da Gruenenthal, quero aproveitar essa oportunidade para expressar o nosso profundo pesar pelas consequências causadas pelo Contergan e a nossa profunda solidariedade às vítimas, suas mães e famílias", disse Stock na cerimônia na cidade de Stolberg, na Alemanha, onde fica a sede da empresa.
CHOQUE SILENCIOSO
"Nós também pedimos perdão por não termos entrado em contato direto com vocês durante quase 50 anos. Pedimos que vocês entendam o nosso silêncio como um sinal do enorme choque que sofremos pelo o que aconteceu com vocês".
Milhares de vítimas da Talidomida, vendida na Alemanha com o nome de Contergan e no resto do mundo como Distaval ainda estão vivas.
Não foi possível fazer contato com a Gruenenthal para comentar o assunto e não ficou claro se os 500 milhões de euros foram pagos para vítimas apenas na Alemanha ou também no exterior, onde outras empresas também comercializaram a droga.
As vítimas alemãs da Talidomida recebem uma pensão mensal de até 1.116 euros de um fundo para o qual a Gruenenthal contribui.
Uma australiana, cuja filha fez um acordo multimilionário em julho com a Diageo Plc, sucessora legal do distribuidor australiano da Talidomida, disse que o pedido de desculpas era um insulto.
"É o tipo de desculpas que você dá quando não está realmente se sentindo culpado", disse Wendy Rowe à Australian Broadcasting Corporation. Lynette Rowe, hoje com 50 anos, nasceu sem braços e pernas depois que sua mãe tomou Talidomida por um mês, durante a gravidez. Seus advogados disseram que a Gruenenthal não contribuiu para o acordo .
Falando sobre a declaração de Stock de "choque silencioso", Wendy Rowe disse: "Nossa família não poderia entrar em ''choque silencioso''. Tivemos que enfrentar a situação e viver dia após dia com o incrível dano que a droga da Greunenthal fez à Lyn e à nossa família".
O escândalo da Talidomida provocou uma revisão mundial no sistema de teste de drogas e aumentou a reputação da US Food and Drug Administration - o FDA, órgão que controla a liberação de medicamentos e alimentos dos EUA, que se recusou a aprovar a droga.
Muitas vítimas alemãs da Talidomida deixaram de comparecer à inauguração da estátua, que mostra uma criança com braços mais curtos, dizendo que isso não passava de uma ação de relações públicas.
Harold Evans, editor da Reuters que liderou a campanha pela compensação das vítimas da Talidomida quando foi editor do Sunday Times a partir do fim dos anos 60, disse que a justiça atrasada significava a justiça negada.
"Cinquenta anos de injustiça não podem ser apagados com um pedido de desculpas, por mais sincero que seja, se ele não vem acompanhado de uma compensação pela dor e sofrimento que milhares de sobreviventes vivem diariamente", ele disse.

retirado da terra .com

Ciência

Pedido tardio de desculpas da fabricante da talidomida não basta às vítimas

Passadas mais de cinco décadas, farmacêutica alemã Grünenthal pede desculpas pelo escândalo envolvendo sedativo utilizado por grávidas nos anos 1950 e 1960. Vítimas de má formação querem mais do que apenas palavras.
A empresa farmacêutica alemã Grünenthal, fabricante da talidomida, finalmente pediu desculpas às vítimas do medicamento, vendido para mulheres grávidas do mundo todo nos anos 1950 e 1960 como tratamento para enjoo matinal. Cerca de 10 mil bebês nasceram com defeitos causados pela droga, a maioria com má formação nos membros ou sem braços ou pernas.
O encarregado do governo alemão para portadores de deficiências, Hubert Hüppe, saudou o pedido de desculpas da fabricante do remédio, vendido na Alemanha com o nome de Contergan. "Já era tempo. É bom que ela o tenha feito e finalmente admita sua culpa como empresa", disse à Deutsche Welle. Hüppe considera positivo para as vítimas que a fabricante finalmente tenha se desculpado.
A associação alemã de vítimas do Contergan reagiu com ressalvas. "Ficou claro que a empresa lamenta o que aconteceu", afirmou a porta-voz Ilonka Stebritz. Porém, diz ela, não se pediu desculpas pela produção do medicamento tóxico. "A Grünenthal continua usando as mesmas palavras de sempre. A palavra 'desculpas' só aparece quando se trata da comunicação, que por mais de 50 anos só silenciou [sobre o assunto]", considera.
Maior escândalo farmacêutico da Alemanha

Recém-inaugurado memorial às vítimas da talidomida é alvo de críticas
O pedido de desculpas pelo maior escândalo farmacêutico da história da Alemanha foi proferido pelo presidente da Grünenthal, Harald Stock, por ocasião da inauguração de um memorial para as vítimas da talidomida na última sexta-feira (31/08) na cidade de Stolberg. "Pedimos desculpas por não ter encontrado o caminho até vocês [as vítimas], de pessoa para pessoa, ao longo de 50 anos. Em vez disso, silenciamos”, disse Stock.
O sedativo foi introduzido pela empresa no mercado nos anos 1950. Era possível comprá-lo sem receita médica, e ele era indicado principalmente a mulheres grávidas. Mas a substância ativa talidomida provocava sérios problemas de má formação em fetos. Dos cerca de 10 mil casos de bebês vítimas do medicamento mundo afora, cerca de 5 mil ocorreram na Alemanha. Por volta de 40% deles morreram ao nascer ou pouco depois.
Em 1961, a Grünenthal retirou a droga do mercado, sem reconhecer sua culpa. Entretanto, a empresa comprometeu-se a pagar o equivalente a 100 milhões de euros à uma fundação para as vítimas. Em 2009, seguiram-se mais 50 milhões de euros.
Agora, finalmente veio o primeiro pedido de desculpas. Mas o próprio memorial em cuja inauguração as palavras de perdão foram proferidas é controverso. O local de pouco destaque, num centro cultural da pequena cidade no oeste alemão, foi alvo de críticas, sob a alegação de que a Grünenthal utilizou um projeto de baixo custo para se promover. A empresa pagou 5 mil euros pela iniciativa.
Crianças são hoje adultos
O memorial não é suficiente para a associação alemã de vítimas do Contergan. "Nossos membros claramente disseram 'não' a essa escultura com o nome A criança doente", disse Stebritz. Segundo ela, não se pode classificar as vítimas como doentes. "Doenças podem ser curadas, mas os danos da talidomida não. Nossas pernas e braços não vão crescer", afirmou. Além disso, não se trata mais de crianças. "Somos adultos com 50 anos ou mais."
Com a idade, aumentam também os desafios para as vítimas. Um estudo encomendado pelos principais partidos políticos alemães constatou que os danos da talidomida são muito mais graves do que se pensava. "Os diferentes tipos de deficiências têm efeitos maiores com a idade", declarou Hüppe. Isso exige medidas políticas e apoio imediato.
Apoio financeiro

Vítimas do medicamento são hoje adultos e enfrentam dificuldades
Stebritz considera a situação das vítimas da talidomida na Alemanha crítica. "Temos deficits tanto no abastecimento de remédios quanto no financiamento de adaptações em carros e no ambiente doméstico." Exatamente pelo fato de os afetados pelo medicamento ficarem cada vez mais velhos, seria importante conseguir mais meios para financiar as necessidades deles, cujos custos aumentam com a idade.
"Com uma dentadura comum paga pelo sistema de saúde, por exemplo, não podemos fazer nada. Também usamos nossos dentes como ferramentas", explica Stebritz. Para abrir uma garrafa, por exemplo, uma dentadura comum não serve, pois quebra com facilidade. Stebritz vê o pedido de desculpas da Grünenthal como um gesto humano, mas as palavras precisariam vir acompanhadas de ações.
Além da Alemanha, a maioria das vítimas da talidomida vive no Reino Unido, no Japão, no Canadá e na Austrália. Casos de má formação também ocorreram no Brasil.
Autor: Olé Kämper (lpf)
Revisão: Alexandre Schossler

  • Data 03.09.2012
  • Edição Alexandre Schossler